Motivos para não acreditar nas pessoas.

Acordei indisposta. Baita dor de cabeça. Fiz as coisas de costume e fui ao trabalho. Adiantei tudo que tinha pro dia, pensando que a dor podia piorar. E piorou, graças a algo que não preciso detalhar aqui. Segui para a enfermaria. Diagnóstico: pico de hipertensão. Remédio: descanso. Fui pra casa.
No caminho, lembrei que precisava passar num laboratório fotográfico. Morrendo ou não. Ninguém faria isso por mim.
A contragosto, com a cabeça explodindo, caminhei pela rua lotada, debaixo de um sol filho da puta. É quando vejo uma senhora deitada no chão, respirando com dificuldade. As pessoas a rodeavam, mas não tomavam quaisquer atitudes. Me aproximei, ajoelhei junto a ela, armei uma sombrinha pra proteger seu rosto do sol e perguntei se ela tava me ouvindo. Disse que sim, que só estava tonta, mas a sombrinha já tava ajudando. Perguntei se conseguia levantar e caminhar até o banco (ela esperava na fila). Disse que sim. Um policial nos ajudou até lá. Deixei algum dinheiro pra que ela pudesse lanchar e minha sombrinha, pra que não tomasse sol na volta pra casa.
Saí dali e só então lembrei que eu tava doente. Comecei a ficar tonta. Mas precisava ir ao laboratório. Cumpri com minha obrigação e tentei voltar pra casa. Tava difícil. Sentei num banco e esperei que passasse um táxi. Não dava pra caminhar até o ponto de táxi mais próximo.

Ninguém perguntou por que eu chorava. Ninguém me ofereceu ajuda. Nem os mais próximos. Meu celular tava no bolso, impassível. Nem um toque. Nem uma mensagem pra saber se era eu quem estava estirada no chão esperando uma ajuda que quase não vinha.

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2 comentários:

Anônimo disse...

É o retrato do mundo moderno.

Anônimo disse...

Mas você ajudou, uma razão para acreditar nas pessoas.

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