69
Algumas atividades parece que nasceram umas para as outras. Tomar banho e cantar dá uma alegria enorme na gente, comer pizza e falar da vida alheia é quase um ato contínuo, beber cerveja e fumar combina que é uma loucura, assim como jogar futebol e xingar a mãe, sentar no trono e ler, dirigir e ouvir música - todas delícias de uma vida boa!
Por outro lado há coisas que simplesmente não ornam. A palavra ornar, por si já não orna com nada. Chupar cana e assoviar todo mundo sabe que é desaconselhável, dirigir e falar no celular a lei não permite, conversar e pular corda é complicado, e assim a coisa vai numa longa lista de práticas incompatíveis. Pois eu queria manifestar meu desapreço por uma posição de funções adversas que, no entanto, é bastante apreciada na atividade sexual - o 69.
Você há de concordar que a postura é ingrata, a vista não é das melhores, e que se não houver cautela pode-se sair dali com um pinçamento na cervical. Além do mais, porque a pressa, porque tudo ao mesmo tempo? Parece coisa de culpa católica - é dando que se recebe, dê ao próximo o que deseja para si. Pessoalmente, considero aquela atividade frenética em ambas as pontas totalmente desnecessária, e porque não dizer, ineficiente.
Não é possível a criatura executar com primor uma função que requer coordenação, dedicação e técnica, enquanto está tentando relaxar para usufruir o que lhe acomete na outra extremidade. Sim porque uma coisa é uma coisa e a outra coisa é outra coisa! E não venha me dizer que tudo corre naturalmente e que é só meter a cara (perdão, falava no sentido figurado) que sai direito. Não sai! Pra começar, o negócio exige um estudo rigoroso da anatomia do outro. É imperativo que se saiba o que está onde, para se entender o que fazer por ali, e é claro que isso vale para parceiros de todos os sexos, independente da ponta (mesmo que convexa) em que se esteja. Também não se pode achar que a prática da coisa por si já ensine. Há quem pratique a vida inteira e, não tendo se dado ao trabalho de uma observar os detalhes da questão uma única vez, passa a vida fazendo o serviço mal feito. Outro fator que não ajuda é a inelutável proximidade com o assunto, que pode, num excesso de entusiasmo, causar a asfixia fatal do parceiro. Menos grave, mas não menos constrangedor é o caso do sujeito com a vista cansada que, nessa situação, tem que contar exclusivamente com a sensibilidade linguo-labial - não quero descriminar ninguém, mas todos sabemos como há no mundo, inclusive sem problemas de vista, criaturas desprovidas deste requisito. E há ainda o caso dos obesos que por excesso de volume no percurso, simplesmente não conseguem atingir as marcas. Por último, quero lembrar, que a reciprocidade, grande objetivo da postura, é raramente atingida, posto que tem sempre um sujeito ali largadão, enqto a outra está dando tudo de si. E vice-versa. E versa versa. E vice vice, também, eu suponho.
O Kama Sutra propõe nada menos que 529 posições pra se experimentar na hora do amor e eu não estou aqui pra desestimular a criatividade de ninguém. Mas não sei se por preguiça, ou por ter amado homens de muita aptidão, ainda considero o trivial bem feitinho algo de insuperável.
Por outro lado há coisas que simplesmente não ornam. A palavra ornar, por si já não orna com nada. Chupar cana e assoviar todo mundo sabe que é desaconselhável, dirigir e falar no celular a lei não permite, conversar e pular corda é complicado, e assim a coisa vai numa longa lista de práticas incompatíveis. Pois eu queria manifestar meu desapreço por uma posição de funções adversas que, no entanto, é bastante apreciada na atividade sexual - o 69.
Você há de concordar que a postura é ingrata, a vista não é das melhores, e que se não houver cautela pode-se sair dali com um pinçamento na cervical. Além do mais, porque a pressa, porque tudo ao mesmo tempo? Parece coisa de culpa católica - é dando que se recebe, dê ao próximo o que deseja para si. Pessoalmente, considero aquela atividade frenética em ambas as pontas totalmente desnecessária, e porque não dizer, ineficiente.
Não é possível a criatura executar com primor uma função que requer coordenação, dedicação e técnica, enquanto está tentando relaxar para usufruir o que lhe acomete na outra extremidade. Sim porque uma coisa é uma coisa e a outra coisa é outra coisa! E não venha me dizer que tudo corre naturalmente e que é só meter a cara (perdão, falava no sentido figurado) que sai direito. Não sai! Pra começar, o negócio exige um estudo rigoroso da anatomia do outro. É imperativo que se saiba o que está onde, para se entender o que fazer por ali, e é claro que isso vale para parceiros de todos os sexos, independente da ponta (mesmo que convexa) em que se esteja. Também não se pode achar que a prática da coisa por si já ensine. Há quem pratique a vida inteira e, não tendo se dado ao trabalho de uma observar os detalhes da questão uma única vez, passa a vida fazendo o serviço mal feito. Outro fator que não ajuda é a inelutável proximidade com o assunto, que pode, num excesso de entusiasmo, causar a asfixia fatal do parceiro. Menos grave, mas não menos constrangedor é o caso do sujeito com a vista cansada que, nessa situação, tem que contar exclusivamente com a sensibilidade linguo-labial - não quero descriminar ninguém, mas todos sabemos como há no mundo, inclusive sem problemas de vista, criaturas desprovidas deste requisito. E há ainda o caso dos obesos que por excesso de volume no percurso, simplesmente não conseguem atingir as marcas. Por último, quero lembrar, que a reciprocidade, grande objetivo da postura, é raramente atingida, posto que tem sempre um sujeito ali largadão, enqto a outra está dando tudo de si. E vice-versa. E versa versa. E vice vice, também, eu suponho.
O Kama Sutra propõe nada menos que 529 posições pra se experimentar na hora do amor e eu não estou aqui pra desestimular a criatividade de ninguém. Mas não sei se por preguiça, ou por ter amado homens de muita aptidão, ainda considero o trivial bem feitinho algo de insuperável.
Maitê Proença
Recent Comments